terça-feira, 27 de julho de 2010

gosto amargo

Ela foi almoçar sozinha, com a cabeça baixa, pensando em como a vida as vezes pode parecer injusta. E novamente pensando em quão efêmera ela pode ser e em um sopro tirar alguém que há segundos estava ao lado. E aquela dor lhe apertava a barriga, junto a sensação de que ninguém é eterno, e nada é para sempre.

A única vontade era terminar de comer o prato mais silencioso e desgostoso, tirar aquela dor de dentro de si e correr para estar junto de quem se ama, pra poder dizer




Eu te amo.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O grito contido.

Algumas vezes; especialmente hoje; penso que sou muito contida.
Eu sou aquela que se alguém furar a fila na minha frente, difícilmente vou arrumar confusão.

Se meu sanduíche vem errado, eu deixo quieto, como o que estiver mesmo, ou então, com a maior educação do mundo, eu aviso a moça que não era assim que eu havia pedido, e peço para ela tirar a parte que eu não pedi, por favor.

Pouquíssimas vezes fiquei nervosa ao ponto de falar grosserias ao atendente de telemarketing, criticar o balconista da lanchonete, falar um monte ao caixa do banco. (Não digo que não foi nenhuma, as vezes acontece, mas comigo é raro.)

E não é que eu não me incomode. Eu me incomodo, e muito. Mas eu fico pensando o quanto vale a pena xingar, me estressar e deixar as outras pessoas nervosas também. Não será melhor eu guardar minha raiva pra mim e depois abstrair tudo?

Eu estava na fila do Banco. Já cheguei atrasada no banco porque o motorista do ônibus fez o favor de errar o caminho logo no centro da cidade, pegou uma ponte errada e aí pra fazer o retorno levou aí uns 10 minutos. 10 minutos de pura agonia. Pensando porque esse filho da p%¨@$# não fez o caminho certo. Alguém lançou no ônibus que ele errou o caminho de propósito, pra passar na frentede sei lá aonde antes e blabla. Mas porra! Eu pego esse ônibus sempre pq sei quanto tempo vai levar aonde eu quero chegar! Eu quero passar tal hora, por isso peguei esse ônibus. O cara resolve mudar do nada???

Depois que desci do ônibus pensei: porque eu sou assim? Voltei lá pra minha infância, quando eu tinha vontade de brigar, xingar minha irmã, ou qualquer outra coisa (mas normalmente era minha irmã mesmo, a pessoa mais próxima) porém minha mãe não queria que a gente gritasse porque não gostava que fizessemos escândalos para os vizinhos. Minha mãe é meio assim até hoje. E aí engolia cada sapo pois a cada vez que ia ter briga, minha mãe reprimia, mesmo se eu tivesse razão, ou se ela tivesse razão, ou ela precisasse gritar, mesmo que eu merecesse ouvir os gritos dela, os gritos para ela incomodariam os vizinhos mais do que os não-gritos incomodariam ficando presos dentro de mim ou dentro dela.


Por um lado isso foi bom, aprendi a driblar alguns problemas cotidianos da forma mais simpática possível, sem ser grossa. A gente não precisa brigar e gritar pra dizer quando as coisas estão erradas. A maioria das coisas tem uma solução pacífica.

Porém outras tantas coisas, ainda mais no mundo em que vivemos hoje, na cidade em que vivemos, nesse caos que vivemos me deixam extremamente frustrada com meu bom comportamento diante de momentos descontrolados. Vez em quando eu tenho vontade de soltar tudo, tal qual um dragão.

Voltando a história do banco, eu peguei uma fila,  precisava preencher uns dados e pagar uma taxa. Eu estava com o dinheiro em mãos, sairia dali e ia pro trabalho. A mulher fala "Agora vc vai pra fila do caixa pra pagar a taxa de 5 reais e 50 centavos". A minha vontade era falar "Eu vou ter que pegar fila de novo, PORRA? TEM GENTE Q TRABALHA NESSA BOSTA DESSA CIDADE". Mas eu só falei "Moça, infelizmente não tenho tempo de pegar a fila de novo, eu preciso trabalhar, não tem como eu pagar pra vc mesmo?" E ela disse "Não, tenta pagar na lotérica mais tarde então."
-"PORRAAAAAAAAAAAAAAAA EU VIM ATÉ AQUI PRA RESOLVER ESSA BOSTA, E AINDA VOU TER QUE SAIR DO TRABALHO PRA PASSAR EM UMA PORRA DE UMA LOTÉRICA?"
Foi o que eu pensei em dizer, mas só saiu "Ok, obrigada!"


Eu tinha mais coisas para escrever aqui, mas fiquei resolvendo um monte de pepinos, pacientemente conversando com as pessoas, como sempre faço, e acabei esquecendo o desfecho do que dizia.

Preciso começar a fazer ioga.

"Dissestes que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira..."
Há Tempos.