quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Leveza

Abriu os braços e sentiu o vento contra seu corpo. Como naquelas cenas de filme em que a pessoa se suicida se jogando de um prédio, com um vestido branco e os cabelos longos e ondulados causando um efeito bonito.

As coisas soavam melancólicas, o som dos ônibus passando, das britadeiras. O mundo estava girando e ela estava lá.


Fechou os olhos e tudo que conseguiu ouvir foi o barulho do vento, e a força do sol, tocando a sua pele. Há aquele momento trágico em tantos filmes que a pessoa abre os braços e cai. No momento em que ela abriu os braços e deixou o vento a empurrar, o efeito, diferente dos filmes, foi outro, ela flutuou no céu como estivesse dando um passo.
Pensou no seu peso, nas leis da física, na gravidade, pensou nas pessoas que estavam no chão, passando na rua e nada tinham a ver com a vida dela, pensou no motorista do ônibus que passa o dia fazendo aquele trajeto, pensou na britadeira, nos homens que trabalham com aquele barulho o dia todo, pensou no homem que gritava ao celular no carro ao lado hoje de manhã, pensou na sua família, nos seus fracassos, depois pensou no quanto tudo isso ficava pequeno assim de cima, sentindo o vento, o sol e principalmente


pensou ser leve. Leve de tal forma que o vento conseguiu a sentir, conseguiu se transformar no vento. Conseguiu ser o vento e se deixar ser ele. Os olhos fechados para poder sentir aquilo. Não era preciso olhar para notar o que acontecia. Era leve como se nada mais houvesse, todas as coisas que toda a vida pesavam sua consciência. Nada mais pesava. Ela estava leve. E sentia o vento nos pés.



Depois piscou os olhos, viu que estava em sua sala no trabalho, na mesa em frente ao computador, o telefone estava tocando, o celular também e todas as coisas do escritório estavam ali pra ser feitas, não pra ser observadas.

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